




Reflexão
É pacífico considerar que o desenvolvimento científico e tecnológico conheceu grande vitalidade no século passado, sobretudo nos países e sociedades mais desenvolvidas económica e culturalmente, e que estas mudanças acabaram por implicar novas dinâmicas sociais e políticas que, entre outros efeitos, provocaram intenso debate sobre as questões educativas e o seu papel de influência nessas dinâmicas.
No decorrer desse período, também as fronteiras e a dimensão das diferentes áreas do conhecimento tiveram significativas transformações.
Vivemos numa época de recursos escassos e necessidades ilimitadas. Felizmente, os recursos pedagógicos fogem a esta realidade, pode mesmo dizer-se que existem hoje em maior número que ontem e, menos do que amanhã, dado o crescimento que com eles acontece, devido sobretudo ao progresso tecnológico mas também em grande parte ao progresso social e ao aparecimento do mundo global, das sociedades globais, das economias globais e, porque não do ser humano global. Importante é que não se perca a noção de que para enfrentarmos estes desafios que se nos impõem necessitamos de ser homens e mulheres de hoje, cidadãos do mundo, preparados para os desafios a essa escala, que requer conhecimentos mais profundos e aprendizagens, cada vez mais complexas e contínuas, assim assistimos, não raras vezes, ao aparecimento de novas tecnologias capazes de enfrentar não só desafios actuais, como também desafios futuros, contudo nem sempre tudo é assim tão fácil e, impõe-se uma aprendizagem contínua, centrada essencialmente num constante actualizar de conhecimentos sem os quais a profissão de professor se torna bastante difícil e habitualmente mais rotineira, cansativa e enfadonha.
É importante lembrar que a utilização das novas tecnologias de informação na sala de aula não foram fáceis de aceitar, aliás tiveram até alguns entraves, por um lado inicialmente os meios informáticos eram raros, caros e de grande dimensão, por outro lado mesmo aquando do seu aparecimento no mercado a preços mais acessíveis e com formatos mais pequenos, houve sempre quem duvidasse da sua aplicabilidade, habitualmente por força da resistência à mudança, argumentando-se, muitas vezes, que estas tecnologias não iriam trazer nada de novo, ou que sempre ensinei sem esse tipo de ferramenta e os meus alunos obtiveram bons resultados.
Foi sobretudo, a partir dos anos oitenta que a aceitação da informática e a utilização do computador começou a ter maior importância. É o surgir do ensino assistido por computador. O computador passava a ser uma máquina de ensinar. Em determinada altura a inteligência artificial procurava encontrar respostas para auxiliar o aluno. Os próprios jogos interactivos tinham também aqui uma missão pedagógica.
De realçar que nos primeiros tempos a utilização do computador tinha uma fraca expressão, ainda assim já existia uma certa interacção e uma necessidade de saber fazer, de saber utilizar estes novos meios.
Talvez o maior responsável pela utilização do computador no ensino tivesse sido Seymour Papert com o desenvolvimento da tecnologia LOGO.
Nos anos 80/90, o computador começa a ser visto com uma das ferramentas a utilizar no ensino. “A informática na perspectiva do utilizador”. O computador passa a ser visto como uma ferramenta potenciadora de tarefas e por conseguinte de auxílio ao professor como facilitador da aprendizagem. Os programas são cada vez mais completos e sofisticados permitindo fazer e desenvolver matérias aos mais diversos níveis. De referir que é bastante difícil se não mesmo impossível, dominar tudo o que existe como oferta.
O computador tornou-se uma ferramenta praticamente obrigatória com a chegada da internet. A informação ficou mais perto de cada um de nós e à distância de um clique, pensou-se mesmo que tinha chegado a hora em que o livro seria substituído.
No entanto e, apesar de que estamos a tornar-se cada vez mais digitais, tal não viria a acontecer e contrariando o pensamento de muuitos prestidigivitadores, o que veio a acontecer foi que as vendas de livros aumentaram apesar de tudo. Isto é o livro continua a ser o preferido da pessoa, apesar de sempre procurar imensas informações na internet.
O espaço e o tempo adquirem um significado diferente com o ensino online. O b-learning é o mais utilizado dado que é uma mistura entre a aprendizagem online e presencial, ao passo que o e-learning é feito apenas à distância.
Existem hoje um conjunto de redes dentro da rede internet, que permitem uma enorme panóplia de recursos para a construção do conhecimento.
È de realçar o importante papel que os professores têm a este nível, em primeiro lugar como orientadores na seriação criteriosa dos locais de informação que os alunos devem utilizar, por outro lado na verificação da informação encontrada e na forma como deve ser tratada para se tornar fonte de conhecimento e não mera informação.
A outros níveis, mas não menos importante é o papel que cabe ao professor de não utilizar as novas tecnologias, apenas porque são novas tecnologias, o que por si só apenas traria ao ensino um substituto na forma de aprendizagem sem acrescentar nada de novo.
Se todas as demais condições necessárias melhorarem, mas os alunos não aprenderem mais e melhor, não há melhorias na qualidade da educação. (Assmann, 1995).
Podemos sempre utilizar, se nos parecer que acrescentamos algo ao ensino e à aprendizagem, novos instrumentos de trabalho, de forma a tornar as aulas mais atractivas, criar empatia, subir níveis de rendimento, tornar alunos motivados, empenhados na sua própria aprendizagem e sobretudo, elementos chave na construção da mesma. A visualização de filmes, a construção de ferramentas informáticas de visualização, a televisão e os programas televisivos, o data show, a música e muitos outros meios hoje ao alcance dos professores, devem cada vez mais, fazer parte do seu quotidiano enquanto ferramentas de ensino/aprendizagem. Para isso é necessário não esquecer que o professor tem que estar permanentemente actualizado a todos os níveis, particularmente no domínio das novas tecnologias, é necessário um acompanhar constante do desenvolvimento tecnológico, de uma abertura a esse desenvolvimento e de um constante desenvolvimento pessoal garante de que possa dar resposta adequada ao desenvolvimento da aprendizagem dos seus aprendentes.
O professor é também um aprendente, só pode estar actualizado quem nunca abdicar de aprender continuamente, quem não abdicar do seu próprio desenvolvimento pessoal, da sua necessária e constante evolução. Esta terá de ocorrer a todos os níveis, não basta hoje termos conhecimento das matérias, dos programas, dos curricula, antes porém é necessário uma adaptação às novas realidades, ao mundo e á sua constante evolução, ao evoluir das sociedades, dos negócios, das economias e sobretudo, do conhecimento e de como chegar até ele, dos novos processos de aprendizagem que passam obviamente pelas novas tecnologias.
Por outro lado, é inegável que a profissão de professor tem sofrido, nos últimos anos algum desprestígio, agravado sobretudo, pela utilização sistemática, ao longo dos anos, por diversos professores, do mesmo tipo de estratégia, dos mesmos materiais, de muito pouca tecnologia, sobretudo as novas tecnologias, em suma da mesma forma de leccionar que sempre utilizaram insistindo em métodos e técnicas pedagógicas que em nada se adequam às novas realidades.
Os alunos devem, antes de mais serem levados a aprender a aprender, tornar a sua aprendizagem algo contínuo, que se manterá ao longo de toda a sua vida e não apenas na escola, para isso os alunos terão que desenvolver formas de aprendizagem adequadas às novas realidades, para que dessa forma possam adequar-se às novas realidades sociais.
Com efeito, podemos constatar que a tecnologia e os dispositivos tecnológicos que podem ser utilizados na aprendizagem estão em constante evolução, muito rápida evolução na maior parte dos casos. A questão que se coloca é se conseguirá o professor acompanhar essa evolução? E a escola enquanto organização? E o espaço continuará a ser a sala de aula? Surgirão novos espaços? Estarão os nossos dirigentes disponíveis para que isto aconteça? Estas e outras questões se levantam, sem no entanto existirem respostas concretas para a grande maioria delas.
É um facto que se as novas tecnologias, forem utilizadas sem que existam outras transformações, os alunos pouco ou nada têm a ganhar com a sua utilização. Urge pois antes de mais que exista plena consciência da necessária remodelação do pensar o ensino. Disso depende a sua adequação aos novos meios que temos ao dispor, disso depende a evolução do professor e a sua acção, disso depende acima de tudo o aluno e a sua aprendizagem.
As formas como as classes sociais se relacionam vão se materializar em técnicas, processos, tecnologias, inclusive processos pedagógicos que se realizam através de uma certa relação pedagógica.” (Martins 1988).
De facto a utilização das novas tecnologias só por si, como temos vindo a constatar, pode não acrescentar nada ao ensino, ou melhor dizendo á aprendizagem, é por isso importante o uso que cada um de nós lhe dá e é em última análise disso que depende, só uma correcta utilização dos novos meios tecnológicos pode proporcionar os objectivos desejados, por outro lado a sua utilização desvinculada deste princípio de nada servirá ao aluno e nada acrescentará ao sistema educativo.
“Cada pessoa sabe perfeitamente que se pode aprender sempre e em vários contextos, e que esta actividade estranha não se deixa confinar aos contextos e lugares para os quais é habitualmente remetida”. (Meirieu - Aprendre oui… mais comment? )
Se queremos formar indivíduos para se integrarem num contexto de Europa unificada, tanto os naturais dos Estados Membros, como os imigrantes, terá necessariamente que haver uma estratégia “glocal” (think global, act local – Uma estratégia global mas com ênfases locais).
Isto é um grande desafio que se coloca neste momento aos professores e que será cada vez mais serio á medida que a União Europeia se for consolidando, ganhando aqui terreno as propostas de pedagogia diferenciada defendidas por Phillipe Perrenoud.
Proporcionar aprendizagens à luz das diferentes realidades (que já existe), mas estimulando um espírito mais competitivo, desenvolvendo competências de empreendedorismo que aliados a conhecimentos mais vastos, permitem uma maior inovação, que é um factor chave para o desenvolvimento do país e que já demos provas que pela via da inovação conseguimos bons projectos e com impacto no estrangeiro.
Um papel importante que passa também pelo uso das novas tecnologias, muitas vezes subaproveitadas neste domínio é o de que poderiam proporcionar programas de partilha entre professores e entre Escolas, no sentido de aperfeiçoar estratégias de actuação e contrariar a natural tendência dos professores em trabalhar isoladamente, por força também da natureza do seu trabalho. Aqui, quem dirige as escolas também terá um papel importante a desempenhar.
Sem querer politizar nada, importa referir que de há muitos anos para cá se perde muito tempo e gasta-se muita energia em Portugal em torno de muitas discussões estéreis em matéria de ensino, quando poderiam ser mais proveitosas, caso se discutissem e colocassem em marcha programas de formação adequados á realidade contemporânea, muitos recursos são disponibilizados sem que ninguém os utilize durante muito tempo, acabando por ficar obsoletos.
Uma formação de excelência e orientada para responder às necessidades nacionais, baseada nas novas tecnologias e procurando o desenvolvimento pessoal dos professores, a sua formação e consequentemente o seu prestígio e valorização, contribuirá seguramente para um Portugal mais competitivo, mais empreendedor e mais inovador.
